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* Prisão de grupo de ministro no caso dos laranjas do PSL deixa Bolsonaro sob pressão.

A prisão de um assessor especial e de dois ex-assessores do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) em razão de investigação sobre candidaturas de laranjas do PSL na eleição de 2018 elevou a pressão sobre Jair Bolsonaro (PSL).

A ação desta quinta-feira (27) da Polícia Federal, que atinge o partido do presidente da República, é decorrência da apuração sobre caso revelado pela Folha em fevereiro e levou à retomada das discussões sobre o futuro do ministro no governo.

Aliados de Bolsonaro admitiram abalos com a situação. Presidente interino durante viagem do titular ao Japão, o general Hamilton Mourão disse ser “óbvio” que Álvaro Antônio será demitido “se houver alguma culpabilidade” no caso.

Os mandados de prisão temporária e de busca e apreensão foram autorizados pela Justiça de Minas Gerais. Computadores e telefones celulares foram apreendidos.

Um dos presos é Mateus Von Rondon Martins, assessor especial no Ministério do Turismo. Ele é um dos mais próximos aliados de Álvaro Antônio e seu braço direito na pasta do governo de Jair Bolsonaro.

Também foram presos Roberto Silva Soares, conhecido como Robertinho, e Haissander Souza de Paula. Os dois atuaram na campanha eleitoral que elegeu Álvaro Antônio deputado federal.

Robertinho foi o coordenador da campanha no Vale do Aço, em Minas, e figurou como assessor de seu gabinete na Câmara de 2015 a 2018. Já Haissander também foi assessor do gabinete, de 2017 e 2019.

Em nota, o ministério afirmou que aguarda mais informações para se pronunciar, mas disse não haver relação entre as investigações e as atividades de Von Rondon na pasta. Desde o começo das revelações, o ministro tem negado irregularidades.

Bolsonaro tem dito que a situação do ministro causa desgaste para o governo e que esperaria a conclusão da apuração da PF para decidir o seu destino.

O presidente está em viagem para o encontro do G20 do Japão e não se manifestou sobre as prisões até a publicação deste texto. Chegou a fazer sua transmissão semanal ao vivo em rede social às 19h desta quinta-feira, mas não tratou do caso.

“Ele [Bolsonaro] aguarda o desenlace das investigações e, óbvio, se houver alguma culpabilidade dele [Álvaro Antônio] no processo, o presidente não vai ter nenhuma dúvida sobre substituí-lo”, disse Mourão nesta quinta em Porto Alegre, durante a posse do juiz federal Victor Laus como presidente do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, saiu em defesa de Álvaro Antônio e buscou desvincular um eventual desgaste na imagem da gestão Bolsonaro. “Isso tudo são questões que não têm nada a ver com o governo”, disse. “O governo continua confiando no seu ministro.”

A avaliação de integrantes da cúpula militar, no entanto, era oposta. Para eles, Bolsonaro já deveria ter afastado o ministro desde o início da investigação da Polícia Federal, uma vez que sua permanência, nas palavras de assessores palacianos, se tornou “insustentável” e prolonga uma crise política.

No Congresso, aliados reconheceram haver embaraço, enquanto a oposição vê uma tentativa de blindagem do ministro para não afetar a reforma da Previdência —diante disso, prepara requerimento para convocá-lo.

“Está se avançando nas investigações. Logicamente, a situação cria abalos para todos nós. Mas que se apure e se responsabilize quem tem que ser responsabilizado”, disse o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP).

Procurada pela Folha, a defesa de Von Rondon afirmou que não se manifestaria sobre a prisão e a investigação. A reportagem não localizou os advogados de Robertinho Soares e Haissander de Paula.

caso das candidaturas laranjas do PSL é alvo de investigações da PF e do Ministério Público em Minas e em Pernambuco. A repercussão do escândalo resultou na queda do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que comandou o partido nacionalmente em 2018.

As prisões desta quinta-feira tiveram como base provas e depoimentos que apontam, segundo a Justiça, que eles tiveram ativa participação no esquema de candidaturas de laranjas patrocinado pelo PSL de Minas Gerais.
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FOLHAPRESS
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