O Movimento Brasil Livre (MBL) vive um dilema. Após ganhar protagonismo
nas ruas e estimular o "Fla-Flu" político em meio às crises que
culminaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), agora o
movimento diz que quer fazer política priorizando o debate. O problema é
passar isso para sua base, ainda fortemente influenciada pelo
antipetismo e pela postura bélica nas redes sociais.
Nos últimos dois dias, o movimento realizou seu 5º Congresso Nacional
em São Paulo. Foi um evento marcado pelo mea-culpa onde, diferente das
edições anteriores, o MBL tentou se afastar da pecha de grupo radical
para se vender numa versão "3.0".
"Ajudamos a criar essa espetacularização que incentiva gente como
Daniel Silveira (PSL-RJ) a quebrar a placa de Marielle (Franco,
vereadora do Rio pelo Psol, assassinada em 2018) e ser eleito deputado
federal baseado nisso. Nós temos culpa no cartório", disse o
coordenador-geral Renan Santos. "Transformamos política em espetáculo e
um monte de vagabundo veio à reboque fazer a mesma coisa sem
responsabilidade."
Apesar da iniciativa inédita do MBL de convidar até palestrantes da
esquerda para o evento (o deputado federal Júlio Delgado, do PSB,
participou de um debate sobre reforma política), o congresso mostrou que
a mudança enfrenta resistências na "base". O ex-presidente Michel Temer
também participou do evento.
Com mais de 2,2 mil ingressos vendidos, o evento reuniu lideranças
locais dos quase 220 núcleos do MBL no País. Entre esses líderes, o
alinhamento à nova fase do grupo ficou evidente - mas eles falam com
cautela sobre a base de simpatizantes e apoiadores do grupo.
Influente nas redes sociais, o MBL tem mais de 3 milhões de seguidores
no Facebook, 854 mil no Instagram e 473 mil no Twitter. Líder nacional
do movimento, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) falou em
"dificuldade". "Os coordenadores estão em bastante sintonia. A maior
dificuldade é transmitir para a base", disse Kim. "O desafio é como
aprofundar o debate com interesse sem se deixar levar por um ambiente de
polarização superficial."
O coordenador do MBL na Bahia, Siqueira Costa Júnior, aposta no diálogo
para chegar à base. "A gente já passou por esse momento de rage
(raiva), de não querer conversar. Mas a gente entende que existe a
possibilidade do diálogo para acabar com isso", afirmou.
Líder do grupo em Santa Catarina, Débora Riggenbach entende a
dificuldade como parte do da pluralidade que diz ver no MBL. "A gente
tem membros de diversas ideologias. É algo que respeitamos. Nossas
lideranças estão alinhadas, às vezes tem conflito, mas conversamos e em
reuniões passamos isso para a base."
Contrastes
Apesar da instrução clara por diálogo e debate, o clima de provocação e
ataques irônicos a adversários foram comuns entre palestrantes e o
público no congresso do MBL, como nos momentos de aplausos calorosos a
críticas ao PT e ao governo Jair Bolsonaro (PSL) ou as vaias em menções
ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O deputado estadual Arthur do Val (DEM-SP), apresentado como futuro
candidato a prefeito de São Paulo com o apoio do grupo, destoou ao falar
sobre o novo momento do grupo. Ele reconhece que houve "radicalização",
mas não concorda com a mea-culpa. "O MBL não errou", disse Arthur. "A
espetacularização da polarização foi extremamente necessária." As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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