O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, atacou nesta quinta-feira a resposta do embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, à publicação do deputado Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP) que culpava a China pela pandemia do novo coronavírus. Em nota
publicada em seu perfil no Twitter, o chanceler chamou a reação do
embaixador de “inaceitável” e “desproporcional”, pedindo uma retratação
da embaixada.
“Já comuniquei ao embaixador da China a insatisfação do governo
brasileiro com seu comportamento. Temos expectativa de uma retratação
por sua postagem ofensiva ao chefe de Estado”, disse Araújo na nota. O
texto do chanceler dá enfase não às críticas do embaixador chinês ao
filho do presidente, mas ao fato de o diplomata ter compartilhado um
tuíte de apoio à China crítico a Eduardo que atacava também a família
Bolsonaro, dizendo que ela é “o grande veneno deste país”. O retuíte, um
dos vários feitos pelo embaixador e pela Embaixada da China na
quarta-feira, foi desfeito ainda na noite de ontem.
“É inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe
postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores,
como infelizmente ocorreu ontem à noite. As críticas do deputado Eduardo
Bolsonaro à China, feitas também em postagens ontem à noite, não
refletem a posição do governo brasileiro. Cabe lembrar, entretanto, que
em nenhum momento ele ofendeu o chefe de Estado chinês. A reação do
embaixador foi, assim, desproporcional e feriu a boa prática
diplomática”, afirma a nota de Araújo.
Segundo O GLOBO apurou, o Itamaraty espera que Yang Wanming reconheça
que errou ao compartilhar uma postagem ofensiva à família presidencial e
peça desculpas publicamente a Jair Bolsonaro. Somente depois disso será
tratado o problema gerado pela troca de tuítes entre o deputado e o
embaixador. O chanceler Ernesto Araújo conversou ontem à noite, por
telefone, com o diplomata chinês.
Na nota desta quinta, Araújo, que tem em Eduardo Bolsonaro um dos
principais fiadores de sua nomeação para o comando do Itamaraty, disse
ainda que “o Brasil quer manter as melhores relações com o governo e o
povo chinês, promover negócios e cooperação em benefício recíproco, sem
jamais deixar de lado o respeito mútuo”.
A crise diplomática com a potência asiática que é o maior parceiro
comercial do Brasil começou quando Eduardo Bolsonaro, que atua como
chanceler informal do governo e foi cotado para ser embaixador do Brasil
em Washington, escreveu uma mensagem na quarta-feira em que
responsabilizou a China pela disseminação global do coronavírus.
“Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu.Substitua a usina
nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma
ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q
salvaria inúmeras vidas A culpa é da China e liberdade seria a solução”,
escreveu Eduardo no Twitter.
Horas depois, o embaixador chinês respondeu também na rede social: “A
parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as
retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e
manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e a Câmara dos
Deputados”, disse Yang no Twitter.
“As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo
chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu status
como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública
especial. Além disso, vão ferir a relação amistosa China-Brasil”,
acrescentou.
Na mesma linha, a conta oficial da Embaixada da China disse que as
palavras de Eduardo “são extremamente irresponsáveis e nos soam
familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao
voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está
infectando a amizades entre os nossos povos”.
Depois disso, a embaixada chinesa e Yang compartilharam críticas ao
ataque do deputado, incluindo as do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e
da cineasta Petra Costa. Uma das postagens compartilhadas, porém,
chamava os Bolsonaro de “grande veneno deste país”. O retuíte foi depois
desfeito pelo embaixador.
O embate entre Eduardo e o embaixador chinês causou perplexidade e
preocupação entre integrantes do governo, incluindo pessoas próximas ao
presidente Bolsonaro. Uma das avaliações é que, ao abrir fogo contra a
China, o filho do presidente da República poderá atrapalhar um intenso
esforço diplomático desenvolvido pelo ministro da Saúde, Luiz Mandetta,
para que o país asiático forneça equipamentos hospitalares, como
respiradores artificiais e máscaras, usados para a prevenção da doença e
no tratamento de pessoas internadas em estado grave.
Onde o Brasil foi parar seu moço.
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