Uma idosa de 81 anos morreu enquanto
aguardava vaga em um leito de UTI em Natal. Maria de Lourdes da Silva, que não
tinha sintomas da covid-19, deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento do
bairro Cidade Satélite, na terça-feira (12), após sofrer um AVC. Depois de seis
dias de espera, ela morreu nesta segunda-feira (18).
A Secretaria Estadual de Saúde
Pública (Sesap) informou que "a demanda chegou às 21:45 do dia 17/05/2020.
Às 11h de 18/05/2020 enviado à solicitação p o HRP que às 13:31 confirmou a
vaga.
Segundo familiares da mulher, Maria
de Lourdes foi levada para a UPA pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Samu) já em estado grave. "Ela ia tomar banho quando passou mal. Chegando
na UPA deixaram ela em um canto de parede em cima da maca do Samu aguardando um
leito de UTI, na sala de inalação", conta Ana Elisa, neta da idosa.
Ainda segundo os familiares, Maria de
Lourdes ficou em uma área "verde" (pouco urgente) quando deveria ter
sido atendida na área "vermelha" (atendimento urgente imediato). O
protocolo de cores é utilizado nas UPAs para a organização do fluxo de
atendimento. Com a pandemia da covid-19, as UPAs e os hospitais do interior têm
sido a porta de entrada de pacientes para acesso à rede estadual de saúde.
"Com certeza minha vó poderia
ter sobrevivido se não fosse esse descaso. Passou esse tempo todo em uma maca
do Samu, em um corredor, exposta ao contágio pela covid-19. Ela morreu e o
leito de UTI não apareceu. Um completo absurdo dos gestores", desabafa Ana
Elisa.
Nesse meio tempo, a mulher de 81 anos
chegou a ser transferida para o Hospital Walfredo Gurgel, na quarta-feira (13).
Lá, ela foi submetida a exames que constataram um aneurisma cerebral e um
acidente vascular cerebral (AVC). Em seguida, ainda na quarta (13), ela voltou para
a UPA de Cidade Satélite, onde permaneceu até falecer às 5h desta segunda.
"Imagine a situação da minha avó
nessa gravidade fazendo esse vai e vem. Quando voltamos para a UPA, os médicos
queriam que a gente trouxesse ela para casa porque iam mandar um enfermeiro
domiciliar. Mas ela não estava recebendo atendimento lá, iria receber em casa?
É uma situação revoltante", completa a neta de Maria de Lourdes.
Na noite de domingo (17), horas antes
de ir a óbito, a paciente foi levada da área verde para a área vermelha da UPA.
Por causa da falta de ar causada pelo AVC, o quadro da mulher se agravou e ela
faleceu antes de ser atendida em um leito de UTI.
O sepultamento de Maria de Lourdes da
Silva ocorreu na tarde desta segunda-feira (18) em Natal. Mesmo sem a suspeita
de contaminação por covid-19, a cerimônia cumpriu todo o protocolo para evitar
a disseminação da doença, com caixão lacrado e restrição de aglomerações.
Apenas dez familiares participaram do enterro.
O que
dizem as autoridades em saúde
Sobre a situação, a Secretaria
Municipal de Saúde de Natal (SMS) informa que a paciente foi recebida e
"teve os atendimentos necessários de acolhimento e estabilização".
Ainda segundo a SMS, a direção da UPA solicitou um leito ao Governo do Estado,
que é responsável pela regulação dos leitos de UTI durante a pandemia do novo
coronavírus, mas "a autorização para transferência ainda não chegou".
Em relação a demora para a liberação
de um leito de UTI atribuída ao Governo do Rio Grande do Norte pela Prefeitura
do Natal, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) disse que recebeu o
pedido de um leito de UTI "às 21:45 do dia 17/05/2020 e que o leito foi
disponibilizado às 13h31 desta segunda (18)". Maria de Lourdes já estava
morta.
Caos...
G1
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