Alvo de uma ação de busca e apreensão em operação da Polícia Federal
nesta semana que investiga a organização, financiamento e divulgação de
manifestações antidemocráticas, o publicitário Sérgio Lima recebeu ao
menos R$ 87.700 da cota parlamentar de quatro deputados da base de apoio
do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara nos últimos seis
meses.
Todos esses parlamentares tiveram o sigilo bancário quebrado nesta
terça-feira (16) pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo
Tribunal Federal), ao lado de outros seis deputados e um senador.
De acordo com a prestação de contas e notas fiscais apresentadas
pelos parlamentares e disponíveis no portal de transparência da Casa,
Bia Kicis (PSL-DF), General Girão (PSL-RN), Aline Sleutjes (PSL-PR) e
Guiga Peixoto (PSL-SP) contrataram os serviços de empresas do
publicitário para cuidar de suas redes sociais. Os gastos foram
declarados como “divulgação de mandato parlamentar” e são legais,
permitidos pelo regimento interno da Câmara.
Os quatro são investigados no mesmo inquérito de Lima, que é o
criador da identidade visual e articulador da “Aliança pelo Brasil”,
partido político que o presidente Bolsonaro pretende fundar. Todos negam
qualquer irregularidade ou participação em atos contra a democracia.
Cada parlamentar tem direito a uma cota mensal independente dos
salários, incluindo o dos funcionários do gabinete, que varia entre R$
30.788,66, no Distrito Federal, e R$ 45.612,53, em Roraima. O valor é
destinado a despesas do mandato, como passagens aéreas, conta de celular
e divulgação de mandato.
Segundo um policial que atua no caso, os deputados são suspeitos de
ajudar a financiar e divulgar as manifestações antidemocráticas. O
publicitário, por sua vez, é suspeito de atuar na divulgação das
manifestações.
A investigação sobre manifestações de rua que pedem o fechamento do
Congresso Nacional, do STF, intervenção militar e um AI-5 — ato
institucional mais duro da ditadura brasileira (1964-1985)— é conduzida
pela PF, depois de aberta pela PGR (Procuradoria-geral da República).
Segundo a PGR, uma das linhas de apuração busca esclarecer se parte
dos investigados, entre eles influenciadores e ativistas, articulou-se
com parlamentares e outras autoridades com prerrogativa de foro no STF
para financiar e promover atos que se enquadram em práticas tipificadas
como crime pela Lei de Segurança Nacional.
“Arbitrariedade e totalitarismo”
Quem mais gastou com os serviços de redes sociais prestados por
empresas do publicitário com a cota parlamentar foi o deputado General
Girão, com R$ 51.800 desde dezembro do ano passado, quando virou cliente
de Lima. Naquele mês, o deputado pagou R$ 10.800 à S8 Sampa Agência de
Propaganda —o publicitário afirma ao UOL que deixou a agência em
dezembro, mas na Receita Federal, porém, ele ainda consta como sócio.
Em janeiro e fevereiro, os serviços da S8 custaram ao gabinete de
Girão R$ 11.400 e R$ 7.400, respectivamente. De março a maio, último mês
com a prestação de contas disponível no portal, o gabinete do deputado
pagou R$ 7.400 à Inclutech Tecnologia da Informação, outra firma da qual
Lima aparece como sócio.
Em resposta à reportagem, tanto Girão quanto Lima confirmam a
prestação dos serviços nas redes sociais e negam qualquer envolvimento
com os protestos antidemocráticos.
De acordo com a assessoria de imprensa de Girão, os serviços de Lima
são referentes “a acompanhamento e análise de pautas políticas,
elaboração e manutenção do site do deputado, relatórios diários de
notícias (clipping) e atualização mensal de SEO no site”, com relatórios
diários, e seguem em curso.
Sobre a quebra de sigilo e as investigações da PGR, Girão afirma que
não foi notificado e “buscará todas as medidas cabíveis para se
contrapor a um ato que configura mais uma atitude de arbitrariedade e
totalitarismo”.
Em conversa por WhatsApp com a reportagem, o publicitário afirma que
respeita as instituições brasileiras, confia na Justiça e tem a
tranquilidade de dizer que possui uma relação comercial entre clientes e
prestador de serviços com os deputados. “Nego peremptoriamente qualquer
financiamento, divulgação ou organização de atos que sejam
antidemocráticos”, afirma ele sobre as investigações. Lima diz que está a
disposição das autoridades para esclarecimentos.
Girão...
Com informações do UOL
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