Investigação que cobre o período de fuga do miliciano Adriano da
Nóbrega aponta que seus familiares tinham celulares exclusivos para manter
contato com ele. Isso confirma o método de contato apontado (ponto-a-ponto)
pelo Ministério Público do Rio de Janeiro entre pessoas ligadas ao senador
Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o miliciano.
As
interceptações telefônicas revelam que Adriano exigiu que todos seguissem o
método de ponto-a-ponto, na qual os seus comparsas mantinham aparelhos
exclusivos para entrar em contato com ele. O objetivo deste método é evitar que
o telefone usado para essas conversas fosse identificado em contato com outro
membro da quadrilha. Além disso, a troca do número de celular era feita de
maneira constante por todos, para assim fugir do monitoramento das autoridades.
De
acordo com a investigação sobre o caso das “rachadinhas”, Márcia Aguiar, esposa
de Fabrício Queiroz e ex-assessora de Flávio, e Luiz Botto Maia, advogado e
também ex-assessor do senador, foram até o interior de Minas Gerais se
encontrar com Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano e também ex-funcionária
de Flávio, filho do presidente Jair Bolsonaro.
Mensagens interceptadas do celular de Márcia
indicam que o objetivo do encontro era estabelecer contato com Adriano, que
estava em fuga. Também sugerem que Júlia Lotuffo, namorada do miliciano, também
esteve presente no encontro. Esse foi um dos argumentos para a prisão de
Queiroz, que está revogada.
As
escutas não flagraram conversas de Raimunda com Adriano ou com pessoas ligadas
ao senador. Porém, indicam que o método de contato com o miliciano descrito pelo
MP-RJ na investigação da “rachadinha” era de fato utilizado pela família de
Nóbrega.
Uma
das evidências apontadas pela Polícia Civil é um diálogo da irmã de Adriano,
Tatiana Magalhães da Nóbrega com outro alvo da investigação onde ela diz que
precisa levar “o telefone” até a mãe, no interior de Minas Gerais, para que ela
pudesse conversar com o filho.
Em
outra conversa, a irmã do miliciano revela estar com cinco celulares, que a
polícia desconfia serem aparelhos destinados ao contato com o miliciano.
Daniela
Magalhães da Nóbrega, outra irmã de Adriano, diz em uma conversa telefônica que
receberia a visita de um coronel da PM interessado em pedir dinheiro emprestado
para Adriano. O diálogo indica que ela estabeleceria o contato por meio de um
dos telefones.
A
investigação grampeou dezenas de telefones entre junho de 2019 e fevereiro de
2020 com o objetivo de identificar os celulares que faziam contato com Adriano,
mas, a busca só conseguiu coletar a evidência da técnica ponto-a-ponto, mas sem
conseguir revelar os seus números.
A
história do miliciano Adriano da Nóbrega tem relação direta com a de Flávio
Bolsonaro: em 2003, o então deputado estadual homenageou Nóbrega na Assembleia
Legislativa; dois anos depois, quando o miliciano já estava preso preventivamente
acusado de ter matado um guardador de carros, Flávio Bolsonaro o condecorou com
a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio.
Em
2007 a ex-mulher e a mãe de Adriano da Nóbrega foram trabalhar no gabinete de
Flávio Bolsonaro na Assembleia, sendo que a nomeação foi feita por Queiroz. O
MP-RJ afirma que as duas eram funcionárias fantasmas e ambas foram denunciadas
junto com o senador.
A
quebra de sigilo bancário do caso das “rachadinhas”, que foi anulada pelo
Superior Tribunal de Justiça (STJ), indica que parte do dinheiro arrecadado com
o esquema era repassado ao ex-assessor de Flávio Bolsonaro e passava por contas
geridas pelo miliciano. Além disso, conversas entre Adriano e sua ex-mulher,
que foram interceptadas, apontam que parte do valor recebido também beneficiava
o ex-capitão.
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