Foi uma surra em Javier Milei. Sob
pressão de escândalos de corrupção, da desconfiança dos mercados e da
fragilidade diante do Congresso, o presidente se envolveu pessoalmente
nas eleições
legislativas do maior distrito eleitoral do país —a província de Buenos
Aires— pregando o tudo ou nada contra o peronismo. Saiu gravemente
ferido nesta primeira derrota avassaladora nas urnas em 21 meses de governo.
A distância de 13 pontos separou
a coalizão peronista Força Pátria do partido A Liberdade Avança, liderado pelo
presidente argentino. A legenda governista perdeu em seis das oito seções
eleitorais. O golpe sofrido no mais importante reduto eleitoral do país
serve também como o termômetro que moldará a campanha nas eleições legislativas
para o Congresso, dentro de dois meses.
A fisionomia abatida e a voz
trêmula do presidente expressaram “a clara derrota política”, conforme ele
próprio descreveu. Milei traçou um paradoxo, propondo uma profunda autocrítica
do governo, mas, conforme advertiu, sem recuar “um milímetro no rumo do
governo”.
“Não estamos dispostos a abrir
mão de um modelo que pegou uma inflação de 300% e reduziu-a a 20%. A linha de
ação não só está confirmada, como vamos acelerá-la e aprofundá-la ainda mais”,
previu Milei.
No discurso que marcou a derrota
nas urnas, o presidente se apresentou na companhia da irmã Karina e do ministro
da Economia, Luis Caputo, numa demonstração de que o chamado triângulo de ferro
do governo está protegido e unido para uma esperada reação adversa dos
mercados, nesta segunda-feira (8).
O castigo das urnas, no entanto,
parece ter refletido, de imediato, a turbulência que fragilizou o governo nas
últimas semanas: derrotas sucessivas no Parlamento, a pressão na taxa de
câmbio e o vazamento de áudios que vinculavam Karina Milei, a principal
estrategista do presidente, que ele chama de Chefe, num esquema
de subornos na compra de medicamentos para a Agência Nacional para a
Deficiência.
“Em suma, foi uma série de
graves erros que deixaram o governo numa posição ainda mais frágil, justamente
quando precisava desesperadamente ser ratificado e fortalecido pelo voto
popular, e não o contrário, como aconteceu ontem”, resumiu o colunista Cláudio
Jaquelin, do jornal argentino “La Nación”.
Milei alardeou que as eleições
deste domingo serviriam para cravar o último prego do caixão do kirchnerismo.
Pela analogia traçada pelo presidente, as urnas mostraram que os outros pregos
estavam frouxos. A vitória peronista consolidou o governador de Buenos
Aires, Axel Kicillof, alçado a principal candidato da oposição. Quanto ao
presidente libertário, sobrou pouquíssimo tempo, até 22 de outubro, para rever
a estratégia do governo. g1
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