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* Guarani Kaiowá é morto com tiro na testa em área de conflito.

UM INDÍGENA de 36 anos, Vicente Fernandes Vilhalva, foi morto com um tiro na testa em um ataque atribuído a pistoleiros contra a retomada (ocupação) Pyelito Kue, no município de Iguatemi (MS), neste domingo (16). Ao menos outros quatro Guarani Kaiowá ficaram feridos. A área integra a Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I, sobreposta à Fazenda Cachoeira e retomada pelos indígenas em 3 de novembro. 

O ataque teria sido realizado entre 4h e 5h por cerca de 20 homens que já teriam chegado atirando, segundo lideranças ouvidas pela reportagem. Elas relatam que barracos de lona e pertences na retomada foram incendiados e destruídos por um trator. Ainda de acordo com os Guarani Kaiowá, pistoleiros teriam tentado levar o corpo de Vicente Vilhalva, mas foram impedidos pelos indígenas. 

“Perdemos um guerreiro que sempre esteve na luta em defesa dos direitos dos povos indígenas, Vicente era um dos porta-vozes da comunidade. Não tivemos chance, os jagunços estavam com arma de fogo, calibre .12 e .38 e acertaram um dos nossos”, relata Xe Ryvy Rendy’i, um indígena da comunidade. 

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“Estamos muito preocupados e as autoridades demoraram muito para chegar. As crianças estão assustadas”, afirma Lide Solano, cacique de Pyelito Kue. A comunidade, próxima à fronteira com o Paraguai, fica a 25 km de estrada de terra do centro de Iguatemi. Uma ponte que dá acesso ao local teria sido interditada por fazendeiros da região, de acordo com os indígenas. O caminho alternativo é mais longo, pela cidade de Amambai (MS). 

“A ponte está interditada. Parece que já estavam se organizando para atacar a comunidade. Porque nunca arrumaram a ponte. Só depois que fizemos a retomada, decidiram bloquear. Foi um crime bem organizado. Nenhum carro está passando por lá”, denuncia Rendy’i. 

Apesar de as autoridades federais terem sido acionadas pelos indígenas assim que houve o ataque, a FNSP (Força Nacional de Segurança Pública) só chegou ao local às 9h, quatro horas depois de os tiros cessarem. Servidores da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) também se dirigiram ao local no final da manhã deste domingo. 

“Fomos cercados. Os pistoleiros não chegaram para conversar, já chegaram atirando. Não temos armas, não temos nenhuma chance de defesa. Recuamos e fomos até a aldeia, mas eles seguiram atirando fora da retomada, nas nossas casas. Queimaram tudo na retomada: os barracos, as panelas, as cadeiras”, conta uma das lideranças de Pyelito Kue, sob anonimato. 

Vítima.

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