A empresária Joyce Moreira Falete, dona da Lajoy, agência de
marketing digital mineira, afirma que foi enganada pelo deputado Miguel
Corrêa (PT-MG) para impulsionar ilegalmente conteúdo favorável a candidatos petistas durante a eleição deste ano. Côrrea foi candidato ao Senado, mas perdeu.
Falete foi responsável por indicar à empresa de Corrêa, a Fórmula,
influenciadores digitais que seriam pagos para fazer elogios aos
candidatos em redes sociais. As publicações não informavam que eram
pagas nem exibiam qualquer informação sobre a empresa ou político que os
contratou. A prática é proibida pela legislação eleitoral.
“Me sacanearam muito”, afirmou Falete à Folha nesta
segunda-feira (17). A empresária diz que quando o esquema começou a ser
noticiado, em agosto, pouco antes da eleição, passou por um período
difícil. “Vazaram meu telefone, começaram a me ligar, ameaçando de
morte, de estupro. Eu me isolei.”
O caso foi denunciado por
uma das influenciadoras, que denunciou no Twitter ter sido contratada
para divulgar conteúdos, mas que, na verdade, tratava-se de propaganda a
favor de candidatos petistas —prática da qual discordava.
Segundo Falete, a Lajoy foi contratada pela Fórmula em julho para
desenvolver uma plataforma de aceleração de influenciadores por R$
19.700. Durante esse período, cerca de dois meses, Falete se instalou no
próprio escritório da Fórmula.
Embora o contrato fale em contratação de influenciadores segundo nicho e
treinamento desses influenciadores, Falete afirmou em depoimento ao
Ministério Público que, inicialmente, o trabalho era indicar
influenciadores progressistas, ligados a temas do movimento LGBT ou do
movimento negro, por exemplo, para a plataforma de nome Beconnected.
A empresária afirmou que, ao fim do contrato, houve um desvio de
função, e ela foi requisitada a indicar influenciadores de esquerda que,
por sua vez, foram contratados pela própria Fórmula para fazer as publicações elogiosas a Wellington Dias (Piauí), Gleisi Hoffmann (Paraná) e Luiz Marinho (São Paulo).
Segundo ela informou ao Ministério Público, em depoimento tomado em
14 de setembro, o pagamento aos influenciadores variava de R$ 1.500 a R$
6.000 segundo seu alcance. A equipe de Corrêa queria indicação de 200
pessoas, mas ela indicou somente 70.
“A minha plataforma não tinha nada a ver com o serviço”, disse Falete à Folha. “Foi ameaça, abuso de poder, muita pressão, querendo colocar outra função.”
A empresária estuda mover uma ação por danos morais. Sua empresa
chegou a ter o sigilo fiscal quebrado em investigações do Ministério
Público que resultaram em uma ação de investigação judicial eleitoral
proposta na semana passada por abuso de poder econômico. Além de Corrêa,
sua sobrinha Lídia Corrêa Alves Martins também é acusada.
“A gente só foi usado na tentativa de acobertar o que estava sendo
feito. Eu sou microempreendedora individual, não sou uma laranja
recebendo milhões”, afirmou. “Houve uma reunião com vários advogados,
inclusive a Lídia, e me afirmaram categoricamente que não havia
ilegalidade.”
“Foi um prejuízo de imagem, mas meu coração agora está tranquilo, não estou com raiva de ninguém”, resume.
No depoimento ao Ministério Público, ela também relata ameaças. “Se
sentiu usada e enganada pelo pessoal da Fórmula e, depois que os fatos
foram divulgados na imprensa, ela tem sofrido ameaças por telefone, por
Twitter, por Instagram, por email”, diz o documento.
Falete afirma ter tido que acionar a Fórmula extrajudicialmente para
receber seu pagamento. Ela diz, porém, que influenciadores contratados
ainda não chegaram a ser remunerados pelo trabalho.
A empresária conta que a equipe de Corrêa pediu uma ação para testar o
alcance dos seus influenciadores. Falete, então, intermediou a ordem
para que eles divulgassem a hashtag Lulazord, a favor de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). A hashtag ficou entre os assuntos mais relevantes no
Twitter, alcançando 10 milhões de visualizações.
“[Falete] Entendeu como ordens as pautas e conteúdos para o #lulazord
e para os conteúdos em favor dos candidatos pela forma impositiva e
ameaçadora de rompimento de contrato com que a equipe da Fórmula se
dirigia a ela”, afirma seu depoimento ao Ministério Público.
O restante dos assuntos a serem divulgados pelos influenciadores,
assim como a estratégia de comunicação, segundo ela, passaram a ser
definidos pela própria equipe de produção de conteúdo das empresas de
Corrêa. Todos os conteúdos tinham que passar por ele, segundo o relato
da empresária.
As demandas eram passadas via WhatsApp ou email para os influenciadores.
Na época, Corrêa e os demais políticos mencionados negaram fazer uso de métodos ilegais de
propaganda. O conteúdo da ação movida pelo Ministério Público Federal
em Minas foi compartilhado com os demais estados. A defesa de Corrêa não
foi encontrada na noite desta segunda para comentar.
Esse PT é PT mesmo.
FOLHAPRESSRegiste-se aqui com seu e-mail
ConversãoConversão EmoticonEmoticon