Azedaram-se os humores de Gustavo Bebianno em relação a Jair
Bolsonaro. O ministro palaciano considera-se vítima de uma deslealdade. O
que parecia apenas mais um destempero de Carlos Bolsonaro revelou-se,
aos olhos de Bebianno, uma emboscada tramada junto com o pai-presidente.
Ao se dar conta de que fora enterrado vivo, Bebianno recusou o papel de
morto, prolongando a encenação.
Aconselhado a sair de fininho, o ministro revelou-se, num primeiro
momento, disposto a pedir demissão. Depois, deu meia-volta. Se mantiver a
disposição, arrastará Bolsonaro para a beira da cova. É como se
desejasse forçar o capitão a imprimir as digitais no cabo da última pá
de cal. Não convive bem com a ideia de ser demitido via Twitter pelo
desafeto Carlos Bolsonaro. Prefere que o dono do “pitbull” assuma a
responsabilidade de rubricar o ato de exoneração.
Em diálogos privados que manteve na noite de quarta-feira, Bebianno
mostrou-se aborrecido com a entrevista concedida por Bolsonaro à TV
Record. Nela, o presidente disse ter encomendado investigação da Polícia
Federal sobre os repasses de dinheiro público do fundo eleitoral para
candidatos cítricos do PSL. Acrescentou que, se Bebianno estiver
envolvido com o laranjal do partido, “lamentavelmente o destino não pode
ser outro a não ser voltar às suas origens.”
A entrevista fora gravada no hospital Albert Einstein, antes de
Bolsonaro voar de volta para Brasília. Ficou claro para Bebianno que a
postagem em que Carlos Bolsonaro o chamara de mentiroso horas depois era
parte de uma trama. A irritação do ministro aumentou depois que Jair
Bolsonaro reproduziu em suas redes sociais as postagens do filho e o
pedaço da entrevista em que ele próprio aproximou sua cabeça da bandeja.
Afora os enroscos do filho-senador Flávio Bolsonaro com o Coaf, o
capitão comanda um ministério carunchado. Inclui um condenado por
improbidade administrativa (Ricardo Salles), um denunciado por fraude em
licitação e tráfico de influência (Luiz Henrique Mandetta), um
investigado por transações suspeitas com fundos de pensão (Paulo
Guedes), uma citada em delação da JBS (Tereza Cristina), um beneficiário
confesso de caixa dois (Onyx Lorenzoni) e outro suspeito de
envolvimento no caso dos candidatos laranjas do PSL (Marcelo Álvaro
Antônio). O capitão convive harmoniosamente com todos. De repente,
decidiu oferecer o escalpo de Gustavo Bebianno num ritual de purificação
ética do seu governo. A encenação pode custar caro.
Parlamentares do PSL receiam que Bebianno evolua rapidamente do
estágio de zumbi para o de assombração. A pedido de Bolsonaro, ele
presidiu o PSL desde a pré-campanha presidencial. Só devolveu o comando
da legenda ao seu dono, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE), depois que
Bolsonaro foi guindado ao Planalto. Ex-coordenador da campanha de
Bolsonaro, insinua que colecionou segredos que o presidente talvez
preferisse manter a salvo da curiosidade alheia.
Esse não tem mais espaço no governo.
JOSIAS DE SOUZA
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