Na vida da médica Tatiane
Galdino, de 27 anos, muita coisa aconteceu bem cedo. As primeiras aulas
na universidade começaram quando ela tinha 15 anos. O diploma de medicina
chegou aos 20 anos. Após problemas na saúde mental pelo ritmo intenso, agora,
ela busca se conhecer melhor como uma mulher trans, cursa direito e sonha em se
tornar professora.
Tudo começou quando ela fez o
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com 14 anos, quando ainda era
identificada como homem cisgênero. O Enem apenas um teste, pois era aluna do 1º
ano do ensino médio. No entanto, conseguiu uma pontuação suficiente para ser
aprovada em medicina no campus de Sobral da
Universidade Federal do Ceará (UFC).
A surpresa pelo bom resultado foi
seguida da decisão de tentar ingressar na faculdade. Com medida judicial, ela
obteve um parecer favorável do Conselho Estadual de Educação para “pular” o 2º
e o 3º ano. À época, a jovem recebeu o diploma do Ensino Médio após fazer
uma prova para demonstrar que dominava os conteúdos previstos para o período.
No edital do Enem, os "treineiros"
são os participantes que vão concluir o ensino médio após o ano letivo
correspondente à prova ou que não estejam cursando ou não concluíram o ensino
médio. Estão submetidos às mesmas regras que os demais. No entanto, os
resultados deles são divulgados 60 dias depois em relação aos demais candidatos
e devem ter apenas o objetivo de autoavaliação. Desta forma, não podem ser
utilizados para ingresso na graduação.
“Hoje eu vejo que não foi uma
coisa saudável, não foi uma coisa benéfica. É particularmente enlouquecedor
quando você começa a lidar com questões que, pra um adolescente, são muito
pesadas. Como morte, cuidados paliativos, decisões de vida ou morte… Eu preenchi
a primeira declaração de óbito com 17 anos, então é uma coisa muito densa”,
relata Tatiane ao g1.
os estudos, ela continuou obtendo
bons resultados. Tatiane se formou em 2018 com o grau Magna Cum Laude (“com
grandes honras”, do latim) — uma distinção concedida pelas universidades para
alunos com desempenho acadêmico elevado.
Dentre os critérios para receber
a distinção na UFC, os estudantes precisam ter alto rendimento nas notas e não
podem ter reprovações ou trancamentos de disciplinas no currículo.
Transtornos emocionais
Tatiane cursava o segundo ano da
graduação quando surgiram os primeiros sintomas de ansiedade. Posteriormente,
ela também foi diagnosticada com transtorno afetivo bipolar, um distúrbio
marcado pela alternância entre períodos de depressão e euforia. À época, a
estudante ainda não havia passado pela transição de gênero.
Tendo aulas de manhã e de tarde
e, por vezes, à noite, a jovem lembra que conseguia manter uma rotina de
exercícios físicos e uma alimentação saudável durante a faculdade. No
entanto, o sentimento era de estar alguns passos atrás dos colegas adultos por
não ter maturidade para lidar com a carga emocional.
“Eu me arrependo? Não, porque foi
parte do meu processo, e cada pessoa tem seu processo. Mas é uma coisa que, se
eu pudesse voltar no tempo, eu não teria feito. Você querer amadurecer dessa
forma é muito diferente de amadurecer enquanto você ainda está sob a custódia
dos seus pais, quando você ainda está num ambiente relativamente seguro”,
comenta. g1
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