O combate à corrupção foi um dos
principais temas no Twitter de Jair Bolsonaro durante a campanha
eleitoral que o levou à Presidência, no ano passado. Depois de assumir o
poder, porém, o assunto perdeu espaço em sua timeline e, segundo
levantamento no perfil do presidente, apareceu em apenas 1,4% das
postagens.
Os dados são do Laboratório de Governo Eletrônico da Universidade de
Brasília (UnB), em um projeto coordenado pelo professor Francisco
Brandão. Ao todo, foram 68 tuítes, de um total de 1.378 publicações, que
trataram sobre corrupção entre julho e dezembro de 2018, o que
representou 4,9%. Já nos seis primeiros meses de governo, o número de
postagens com termos ligados ao tema caiu para 20 dentre 1.388.
Proporcionalmente, três vezes menos. O índice do início de 2019 é o
menor dos últimos seis semestres.
Os dados mostram também uma inversão dos temas prioritários do
presidente. No segundo semestre de 2018, corrupção e Lava Jato receberam
mais menções do que assuntos ligados a economia, emprego, religião,
educação e PT. Esses temas, na primeira metade deste ano, receberam mais
destaque que corrupção – sobretudo por causa da reforma da Previdência.
Dos temas que privilegiava na campanha, Bolsonaro segue enfatizando
segurança pública e armamento da população. Um dos motivos é a edição de
decretos que facilitam a posse e o porte de armas, bem como a
apresentação do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, ao
Congresso.
“Ele tem falado menos sobre corrupção e dado preferência a temas que
causam mais atenção na sociedade ou que polarizem. Como presidente, é
preciso falar de mais assuntos. Percebe-se uma troca da pauta da
corrupção pela pauta da segurança, além da economia”, disse o professor
Francisco Brandão.
Procurado, o Palácio do Planalto admitiu que o tema corrupção perdeu
espaço, mas argumentou que é inerente à função de presidente tratar de
mais assuntos. “Enquanto presidente da República, a variedade de
assuntos abordados passou a ter uma abrangência maior, por isso olhando
porcentualmente nota-se essa diferença. Não houve, entretanto, a
exclusão de temas relevantes para o País”, afirmou o Planalto em nota.
No passado, o receio de que decisões do Supremo Tribunal Federal
pudessem atrapalhar o combate à corrupção levou Bolsonaro às redes
sociais. Em maio de 2017, por exemplo, ele postou um vídeo no qual dizia
que a Corte poderia dar um xeque-mate na Lava Jato se passasse a
proibir a prisão de condenados em segunda instância.
Agora no poder e com um dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro
(PSL-RJ), sob investigação do Ministério Público do Rio, o presidente
nada postou sobre a recente decisão do presidente do Supremo, ministro
Dias Toffoli, que paralisou investigações em todo o País. A suspensão
atendeu a um pedido feito pela defesa de Flávio. Ontem, o presidente
defendeu a medida de Toffoli.
Procuradores que integram a Lava Jato, porém, mais uma vez viram na
decisão de Toffoli uma ameaça às investigações. Em nota conjunta, as
forças-tarefa de Rio, São Paulo e Curitiba relataram “grande
preocupação”.
‘Calo’
Aliado de Bolsonaro, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir
(PSL-GO), disse que comentar a decisão de Toffoli seria delicado para o
presidente. “É porque dói no calo dele. Ele está entre o amor e o
direito”, afirmou.
Embora Waldir se diga pessoalmente contrário à decisão de Toffoli,
ele disse que não é só o presidente que evitou falar sobre o assunto. O
tema, segundo ele, nem sequer foi discutido nos grupos de WhatsApp dos
parlamentares do PSL, em sua maioria eleitos sob a bandeira do combate à
corrupção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Bolsonaro.
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